terça-feira, 22 de novembro de 2016

#32 - SONATINA ITALIANA, Carlos Saldanha

A donzela órfã
Seduzida e abandonada
Soluça na neve.

O velho sabujo
De cartola de veludo
Olha de longe...
E gargalha.

Foi ele que a desgraçou.
Mas bêbedo e cético
Pouco se importa.
E gargalha: Ah Ah Ah...

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

#31 - PESQUISA UTILITÁRIA, Carlos Saldanha

De cem favoritos reais
noventa e seis foram guilhotinados.
É preciso conversar atentamente
com os quatro que sobraram...

terça-feira, 27 de setembro de 2016

#30 - "Desta perda geral, mágoa comua", Tomás Pinto Brandão

Desta perda geral, mágoa comua
A Sua Majestade dar queria
Um pêsame que fora uma alegria
A ser de minha sogra e não da sua.

Se à minha não há morte que a conclua,
À sua crer devemos com fé pia,
Que vestida e calçada ao Céu iria,
Como a minha ao Inferno, nua e crua.

E pois, ainda que pobre, eu também entro
Na mágoa universal desta senhora
Que tenho impressa d'alma bem no centro;

Estimara que el-Rei fizesse agora
Com que este dó, que trago cá por dentro,
Também se me enxergasse cá por fora.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

#29 - "Ilustre Príncipe, anunciaste ao mundo", poema sânscrito anónimo

Ilustre Príncipe, anunciaste ao mundo
que baniste a Pobreza de teus reinos.
Cumpre-me pois comunicar que a vil
veio esconder-se em minha humilde casa.


(versão de orge de Sena)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

#28 - "Por uma cona assim eu perco o tino", Fernando Assis Pacheco

Por uma cona assim eu perco o tino
e tudo o mais desamo que não faça
como rata em soneto de Aretino:
a um caralho dar frequente caça

porque essa cona tem da melhor raça
a traça que se diz «donaire fino»
se rosto fora ela e não conaça
onde o tesão divino toca o sino

com uma cona assim aquel'menino
Cupido troca as setas pela maça
martela meus colhões num desatino
que do Rossio ecoa até à Graça

ela é a melhor rata que dá caça
a este meu javardo de inquilino

Lisboa
28-XII-81
 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

#26 - PAPO DE ÍNDIO, Chacal

Veio uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui êles disserum qui chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois êles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí eles insistirum e nós comemu êles.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

#25 - VIA CAIAPÓ, Antonio Risério

a saudade existe
quando você está
ao alcance
da mão

mas quando eu
estou longe
não