Arrancaram-me as penas
E eu sofro sem dizer nada:
-- Sou ave
Bem educada.
E, se quisesse,
Podia
Morder-lhes as mãos morenas
A esses
Que sem piedade
Me roubaram estas penas que me cobrem;
E, no entanto,
Sem o mais breve gemido,
O meu corpo
Vai ficando
Desguarnecido.
E elas,
Aquelas
Que se enfeitam, doidamente,
Com estas penas formosas
-- Que são minhas! --
Passam por mim, desdenhosas,
Em gargalhadas mesquinhas.
Sim, eu sofro sem dizer nada:
-- Sou ave
Bem educada.
sábado, 27 de dezembro de 2014
#17 - PALAVRAS DUM AVESTRUZ TODO GRIS, António Botto
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
#16 - OS AMIGOS, Camilo Castelo Branco
Amigos cento e dez e talvez mais,
Eu já contei! vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
Que vamos nós (diziam) lá fazer,
Se ele está cego, não nos pode ver...
Que cento e nove impávidos marotos.
Eu já contei! vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
Que vamos nós (diziam) lá fazer,
Se ele está cego, não nos pode ver...
Que cento e nove impávidos marotos.
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